sábado, 27 de junho de 2009

Gavetas da Memória - A menina de Maxaranguape


Quinta-feira, 25 de Junho de 2009



GAVETAS DA MEMÓRIA – A menina de Maxaranguape
O litoral do Rio Grande do Norte vivia um clima diferenciado em conseqüência das ondas conflitantes de uma guerra mundial. Essa percepção, no entanto, pouco se fazia presente na vida pacata das comunidades praieiras.
Uma menina de cor branca, cabelos claros e olhos brilhantes havia recebido uma tarefa vital, a qual deveria desincumbir-se com grande responsabilidade para o seu senso infantil. Ela atuaria como dama de companhia de sua tia nos instantes que antecederiam o trabalho de parto. Deveria avisar imediatamente a sua mãe que atuaria como parteira.
Imaginemos as condições precárias e ao mesmo tempo singelas daquela comunidade de pescadores em mais de meio século atrás. Assim, surgiu a necessidade daquele pedido de ajuda. A criança disparou de porta afora qual uma flecha com destino certeiro. Logo em seguida estacou com toda a força do impulso inicial. Sua mente sinalizou para um obstáculo intransponível no percurso programado. O alerta vinha em forma da lembrança de um adestrado atalhados de crianças das redondezas: um veloz cachorro de pescador.
Guiada pelo instinto de sobrevivência ela não só transpôs o obstáculo físico, mas superou as barreiras intelectuais criadas pela rapidez das circunstâncias. Registrou na memória o nascimento de seu primo, firmou afinidades entre ele, sua tia e parteira.
Esse fragmento de eternidade foi desengavetado cinqüenta e quatro anos após, num depoimento espontâneo quando a vida transbordando num turbilhão de matizes envolvia o pai daquele nascituro praiano em sua transferência para outros registros inquestionável da eternidade.
Deus reuni as suas criaturas como une os grãos de areia, conta todas elas como as ondas do mar, faz com que atinjam a praia para a harmonia do ser e entrega a cada uma o mar para que possam aportar em novas experiências.
Nessa praia divina não existe obstáculo intransponível para a criança, para quem está esperando, para quem está chegando e muito menos para quem está embargando.
Editorial
Este conto e sua tela é o “termo de abertura” do Blog O Sibite. Ele foi escrito há exatamente 10 anos. Nunca foi editado ou lido por ninguém. A tela tem 29 anos. O conjunto é patrimônio material, cultural, emocional e espiritual do Blog O Sibite. Natal, 23 de junho de 2009.

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